A missão

A missão

domingo, 17 de abril de 2011

Como lidar com a Morte.

Lidar com  morte não é fácil.
Não existe receita de bolo!
Percebi que para alguns parentes próximos, é uma enorme tristeza, um vazio, e para outros,  acreditem, é um alivio.
As situações são as mais inesperadas. Um dia uma filha relatou que seu pai não podia morrer pois ele era a única fonte de renda da família, numa outra foi relatado que era melhor morrer logo pois seu seguro iria salvar as finanças.
A minha percepção de todas essas experiências é que temos muitas famílias doentes, mais até que o próprio doente.
Não há duvida que existem as famílias, vamos classificar como normais, choram, entristecem, vivenciam o luto.
A minha experiência ao deparar com a morte nas minhas mãos foi inexquecível.
Lembro-me que a paciente quando fui atendê-la estava muito mal, sinais vitais fora do padrão normal, após uns trinta minutos ela faleceu na minha presença.
A família entrou em pânico no momento, antes era uma avó dentro de casa, agora se tornou um corpo.
A filha gritava muito, outra muito quieta, netos sem entender o que estava acontecendo, estava muito confuso, saí de seu domicilio pois minha missão acabou, entrei no táxi e fui para outro paciente, detalhe essa era a primeira do dia.
Meu sentimento no momento foi de agradecimento por conseguir oferecer algo, mesmo pouco.
Alegria por ela ter feito sua partida, sem dor, sem gemer, simplesmente...  foi!
Fiquei espantada como lidei com a morte, a situação da paciente ficou na casa dela, não levei tristeza, nem emoção, recordo somente que fiz uma prece para os espíritos que eles pudessem socorrê-la, abraçá-la e acompanhá-la ( sou espirita, acho que é por isso que lido bem com a partida, bem, acho que sim!!!).
Fechando os olhos recordo de seu rosto até hoje.
Como comecei o texto: Lidar com a morte não é tão fácil!!!

sábado, 16 de abril de 2011

O primeiro paciente.

O primeiro paciente não dá para esquecer.
Ela parecia ser uma mulher linda, devido o formato do rosto, porém naquele momento estava careca, pele muito ressecada e amarelada devido a ação da QT (essa sigla vocês vão se acostumar é referente a Quimioterapia), olhar fundo e vazio, entristecida, acompanhada pelo seu esposo ( médico aposentado, ciente de tudo).
A paciente estava desorientada devido as MTX (metástases cerebrais).
Quando cheguei, não sabia como iria encontrar a paciente, tinha um resumo do caso em mãos,  mais pessoalmente é muito diferente.
Até hoje fico na expectativa, sempre tem alguma coisa que marca o atendimento, as vezes a propria paciente, esposo, filhos, questões familiares, organização do domicilio, cuidadores contratados, tem sempre algo!
No caso dela foi a sua casa, muito bem organizada apesar de seu esposo ser idoso (85 anos), a paciente muito limpa, bem cuidada, tinha uma cuidadora que era supervisionada pelo esposo (tratava a cuidadora bem, mais ficava fiscalizando tudo que ela fazia).
A primeira coisa que seu esposo relatou:
- Ela não sabe que está com a doença tão avançada, vamos preservar isso, penso em colocá-la numa casa de repouso, estou muito cansado, afinal já estamos nessa há mais de 3 anos, foi bom você está aqui ela não sai mais da cama.
Percebi que a ansiedade dele era imensa a começar pela recepção, falou sem parar.
Quando fui atender a paciente o seu olhar me chamou atenção e com muita dificuldade ela me disse sussurrando:
- Não aguento mais! Estou entregando os pontos!
Nesse momento decobri o porque de tudo, necessitava da minha presença, acamada sem movimentação nenhuma, seu corpo estava todo dolorido pela falta de movimentos, não é pq ela não queria era pq não conseguia, era dificil mudar de posição na cama, faltava força.
O meu objetivo ali era devolver essa autonomia, pouca coisa, mais era muito importante para ela.
Trabalhei com ela por volta de 2 meses e ela veio a falecer.
Morrer com dignidade, com o tratamento até o final.
Tudo foi feito, claro que nada em relação ao câncer, mais em relação a qualidade de vida e foi feito até o fim.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Quando começou... 2008

Tudo começou quando mudei para o Rio de Janeiro em 2008, cheguei  sem emprego e totalmente decepcionada com a Fisioterapia.
Trabalhava na minha cidade natal, Barra do Piraí como Fisioterapeuta em todas as áreas (RPG, Pilates, Traumato Ortopedia, Respiratória, Pediatria, ou seja, em tudo).
Não estava feliz!
Mudei para o RJ com meu marido e com 2 filhos nos braços, sem emprego.
Na verdade, não estava preocupada com isso,  meu objetivo era cuidar das crianças... ledo engano!
Recebi um telefonema de uma GRANDE amiga e... quatro meses depois, estava trabalhando em Cuidados Paliativos em Oncologia, como fisioterapeuta formada há 10 anos nunca pensei nisso.
As dúvidas apareceram...
Como a Fisioterapia atua?
O que fazer ? O paciente está morrendo?
Eu aprendi na faculdade REABILITAR e agora o que REABILITAR, senão tem mais jeito?
então...mais a vida  nos leva para a felicidade.
Amo o que faço, vamos lá!!!